sexta-feira, 4 de maio de 2012

Análise Crítica - Módulo Piaget

Giulia Cristina Ortolan
RA: 120967


Piaget. Antes do início do curso, Piaget tratava-se de um nome que já havia ouvido inúmeras vezes, mas sobre o qual pouco sabia. Lembro-me até hoje de uma conversa com uma tia minha, professora de ensino infantil na rede municipal da minha cidade, em que ela contava para mim e meu pai sobre esse tal Piaget, mas eu, bem distante de pensar em cursar Letras, confesso lembrar muito pouco por não ter me interessado. Hoje, professora de inglês, e conhecendo melhor a obra e as ideias de Piaget, posso dizer que concordo com alguns de seus pontos, e discordo de outros.
O primeiro ponto a fazer saltarem meus olhos para o que Piaget diz foi a questão do egocentrismo. Piaget nos diz que, ao longo dos quatro estágios de desenvolvimento da inteligência (Sensório motor, Pré-operatório, Operatório e Operatório Formal),  o egocentrismo está presente, em cada um com seu devido grau. Vai dizer ainda que, para ser egocêntrica, a criança tem que agir inconscientemente, ou seja, o egocentrismo não é proposital, ele, de certa maneira, apenas acontece. E foi exatamente uma atitude egocêntrica que pude facilmente começar identificar alguns aspectos da teoria de Piaget em umas das minhas classes. Certo dia estava trabalhando com um “memory game”, ou jogo da memória, com meus alunos que tem entre 4 e 5 anos. Já havia arrumado as cartas no chão, e os chamei para brincar quando um dos meus alunos virou-se para mim e disse “tô fora”. Esperando que ele se entusiasmasse ao ver os outros brincando, decidi iniciar a brincadeira, porém fui novamente surpreendida por ele, que ao nos ver iniciar a brincadeira, disse: “tia, o que você tá fazendo? Eu disse que eu tô fora”. Ali tive um dos maiores exemplos de egocentrismo que já tive oportunidade de vivenciar enquanto professora. Ele não queria brincar, e não conseguia entender que talvez os outros quisessem: se ele não queria, provavelmente os outros também não queriam, então ninguém deveria estar brincando.
Outro ponto interessante tratado por Piaget aparece quando ele nos diz que para que uma criança assimule ou acomode um assunto novo, é preciso causar nela um desequilíbrio, e que, falando em uma sala de aula, deve ser provocado pelo professor. Ora, como professora, encontro aí um grande desafio. Temos, por vezes, em uma mesma sala de aula, alunos em níveis diferentes, porque cada aluno, antes de ser aluno, é um sujeito que suas vivências, principalmente e majoritariamente familiares, e seus aprendizados, que influenciam em que tipo de aluno (se é que é possível falar em tipos de alunos, realmente) ele será. Tendo tantas diferenças em uma mesma sala de aula, a dificuldade em causar o desequilíbrio está no nivelamento a ser dado. Como às vezes temos alunos muito bons e alunos mais fracos (e não digo quanto ao esforço que têm para estudar, mas ao seu tempo de aprendizado) é preciso ter cuidado para não nivelar em um patamar baixo demais, que desestimule o aluno bom, e nem em patamar alto demais, que exclua o aluno mais fraco. Uma segunda preocupação que aparece nesse processo é certificar-se de que todos os alunos possuem os esquemas necessários para se desenvolver, e assimilar. Por vezes os professores se esquecem disto, e depois ficam tempos se questionando sobre por que os alunos não entendem isto ou aquilo.
E com tantos alunos diferentes, havemos de concordar que (como inclusive discutido por vezes em aula) as crianças que Piaget analisou não são as mesmas crianças que nós temos hoje. Nossas crianças são bombardeadas diariamente por inúmeras informações, que absorvem através da televisão e dos jogos de computador e vídeo game, principalmente. E por esse motivo elas vivem, constantemente, nos surpreendendo. Na escola em que dou aula, as crianças têm por costume jogar jogos no computador enquanto esperam pelos pais. Aqueles meu alunos de 4 a 5 anos saem da sala, e sozinhos colocam no seu site preferido, escolhem sozinhos os seus jogos, conseguem pular toda a introdução que o jogo apresenta, e, normalmente, aprendem a jogá-lo sem pedir instrução a ninguém.
Piaget vai tratar também do desenvolvimento moral, que é outro ponto de meu interesse, por ter contato frequente com crianças. Vimos que as crianças são submetidas a regras morais, que vão seguir, inicialmente, por medo ou por amor aos pais, para que depois elas comecem a compreender os princípios e valores presentes nessas regras. Porém, novamente penso convir dizer que as crianças que Piaget analisou não são as mesmas crianças que temos hoje. Como disse anteriormente, meus alunos costumam jogar jogos na internet antes de deixarem a escola. Presencio todas as semanas o quão difícil é para alguns (a maioria) dos pais fazer com que os filhos desistam do jogo antes dele terminar para ir embora. Eles tentam usar argumentos do tipo “em casa você tem mais tempo para jogar”, ou “vamos que o papai está com pressa”, ou ainda “vamos que a mamãe está esperando” e tantos outros, mas são raras às vezes em que as crianças obedecem imediatamente. É preciso desgastá-las muito antes de convencê-las a ir. Isso talvez mostre que as crianças, pelo menos por amor, não obedecem tanto assim, ou relutam antes de aceitar, ou mesmo por vezes não aceitam. Mas confesso que esse é, para mim, ainda um campo a ser mais explorado, principalmente em meu trabalho.
Piaget morreu dizendo que sua teoria ainda não estava pronta, e penso que ela precisa ser repensada a cada dia, justamente por um pensamento que foi extremamente recorrente em minha análise – as crianças, inevitavelmente mudam, e mudaram muito em poucas décadas, e continuarão mudando. Elas já não têm mais os mesmo brinquedos, não fazem mais os mesmos tipos de brincadeiras, e vivenciam coisas do mundo adulto com mais frequência. É uma teoria que merece ser “reciclada” e repensada, pois possui aspectos que até hoje podem ser enxergados nas crianças (como o egocentrismo, por exemplo), e através dessa lapidação da teoria  poderemos ver se elas realmente se aplicam ao desenvolvimento das nossas crianças da atualidade, ou se algo mudou, e o que é que mudou.

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