sexta-feira, 29 de junho de 2012

Relatório de Atividade Prática - MOTIVAÇÃO -


Alunas:  Liriam Samejima Teixeira                   RA: 103084
              Luciene Silva dos Santos                            094086
              Flaviane Alves dos Santos                           060894


1) Introdução
Foi realizada uma pesquisa, tomando-se como base a perspectiva histórico-cultural do cotidiano escolar de alunos de diferentes cursinhos preparatórios para o vestibular: cursinho comunitário e particular. O cursinho comunitário pesquisado se trata do CASD Vestibulares, Curso Alberto Santos Dumont, de São José dos Campos/SP.
Nosso objetivo é discutir o papel da motivação desses alunos no contexto de ingressar na faculdade.
Os fatores que conduzem a motivação são bem diversificados em cada aluno principalmente quando confrontamos alunos de cursinhos particulares com alunos de cursinhos comunitários, devido as diferentes classes sociais. A família, os amigos, professores, a escola podem influenciar nessa motivação positiva ou negativamente. Assim, o papel do mediador é essencial.

       2)      Descrição do Trabalho Prático nos Cursinhos

2.1) Cursinho Particular
Entrevistou-se um grupo pequeno de alunos com idades entre 18 e 23 anos e uma professora em um cursinho particular da cidade de Campinas. Como resultado, viu-se o grande apoio que esses alunos recebem dos pais e a importância dos professores como mediadores, auxiliando-os a ingressarem na Faculdade.  Esses são os fatores motivadores. Todavia, não há relação afetiva tão intensa entre alunos e professores.

2.2) CASD (Cursinho Comunitário)
            O CASD vestibulares é um cursinho sem fins lucrativo criado e mantido por alunos do ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica, que trabalham há mais de 10 anos em prol de jovens e adultos. É voltado para o atendimento de alunos da camada menos privilegiada da sociedade, dando-os a oportunidade de ingresso no ensino superior, culminando na ascensão social efetiva. Seus alunos são selecionados por meio de um processo seletivo realizado anualmente. Nesse processo seletivo, o candidato passa por duas fases: uma prova de conhecimentos gerais e uma rigorosa entrevista sócio-econômica que avalia a condição financeira do candidato, garantindo que todas as vagas oferecidas pelo curso sejam efetivamente destinadas a alunos de baixa renda. Basicamente, o objetivo é selecionar os alunos mais carentes e mais dedicados para o curso. 
O CASD Vestibulares tem um grande diferencial dos demais cursinhos comunitários na questão de trabalhar com a afetividade dos alunos motivando-os o desenvolvimento deste vínculo afetivo se dá por meio de socializações entre professor-aluno por meios de aulas diferenciadas e interativas, onde o professor sempre está chamando atenção dos seus alunos, por meio de eventos como churrasco, viradão de estudos, eventos de premiações de melhores alunos nos simulados, e também, no apadrinhamento onde os professores acompanham os alunos que tenham alguma dificuldade, seja problemas de aprendizagem, familiares, financeiros, amorosos, ou qualquer outra coisa que possa desmotivar o aluno. Percebe-se que esta forte relação aluno-professor influencia na formação da autoestima, tanto para o aluno que quer apreender quanto para o professor que ao entrar em um contato direto com seus alunos os torna mais apaixonados pela profissão e torna-se cada vez mais comprometido e com mais amor pelo trabalho. Ou seja, ambos se motivam com amor no próximo e isso faz perpetuar o conhecimento e a vontade de também poder ajudar o próximo com o conhecimento adquirido, formando assim um círculo vicioso que professores e alunos levarão em diante não apenas no período de cursinho. E isso eles chamam de “Família CasDvest”

3)      Um pouco de teoria
A motivação e a afetividade trabalham juntas e contribuem efetivamente no processo de ensino e aprendizagem desde a infância do indivíduo. Pode-se concluir que alunos que são motivados por seus professores e pais conseguem desenvolver facilmente suas aptidões e seu raciocínio. A partir desse ponto podemos entender qual a razão do cursinho CASD aprovar alunos, que tiveram um ensino médio bastante defasado, em vestibulares nacionais tão concorridos.
A motivação, quando estimulada, pode atuar acelerando o raciocínio e na capacidade do aluno expor suas ideias.
Segundo Vygotsky, Jean Piaget, Henry Wallon entre outros, existe a necessidade do reconhecimento de que a afetividade possui um caráter de ação volitiva[1] afetividade pode influenciar no comporto e evolução do aluno.
A motivação leva o aluno a acreditar em seu potencial de construção do aprendizado, nesse sentido, entra o papel do professor que, quando motiva o aluno, leva o mesmo a encontrar nele o mecanismo que impulsiona seu crescimento e para desenvolver suas habilidades, despertando, assim, sua inteligência cognitiva, causando um resultado positivo no processo de ensino-aprendizagem. O resultado prático dessas afirmações pode ser visto na apresentação da metodologia de ensino do CASD vestibulares, que além de motivar alunos que ingressam com uma base muito fraca de aprendizagem no cursinho, também trabalham a afetividade, conseguindo, dessa forma, com que motivação e afetividade possam, juntas, fazer com que esses alunos, atinjam resultados tão bons ou até melhores que alunos que obtiveram melhores recursos durante o ensino médio.
Ao contrário disso, podemos ver que alunos que submetidos ao menosprezo por parte do educador, têm uma forte tendência a ter apatia pelo professor e ter atitudes indisciplinadas em sala de aula. Esses são comportamentos oriundos da falta de motivação e recursos sócio afetivos, por parte dos professores.
Vygotsky acreditava que o desenvolvimento era um processo evolutivo e que funções como a atenção, pensamento e memória se davam através da interação da criança com outros. A partir daí surge o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, que é a distância entre o desenvolvimento real (aquele que torna o indivíduo capaz de enfrentar situações aplicando seu conhecimento de maneira autônoma) e o desenvolvimento potencial (aquele que o indivíduo possui, mas que encontra-se em processo). Resumindo, a ZDP seria tudo o que a criança pode adquirir com ajuda de um suporte educacional, é aquela em que a criança inicia seu aprendizado mantendo-se relação com outro. Com esse conceito e relacionando ao tema motivação, é possível intuir que se o professor transmitir conhecimentos que estão muito acima dos conhecimentos reais do aluno, provavelmente, tem-se uma forte tendência de incompreensão e consequentemente desinteresse por parte do aluno, gerado por uma desmotivação.
Ao contrário, se a transmissão de conhecimento se dá abaixo da ZDP do aluno, ou seja, se os assuntos transmitidos são ideias que o aluno já tem um certo domínio, pode-se pensar que o seu desenvolvimento pode gerar, em um diálogo entre aluno e professor, uma forma do aluno transmitir, também, algum conhecimento seu ao professor, longe de ser desmotivador, havendo uma troca de conhecimentos entre ambos.
Podemos conceituar também, as motivações intrínseca e extrínseca, conceitos muito ressaltados pela psicologia. Na teoria vygotskiana, como ensino e aprendizagem fazem parte de um processo comum, a motivação está presente. Ela é um movimento dialético (a intrínseca depende da extrínseca e vice-versa).Podemos raciocinar da seguinte forma: a motivação humana é observada desde muito pouca idade sob diversas formas. Por exemplo, o bebê que busca a satisfação de sua fome e o aconchego de um colo, ele mostra possuir motivação de sobra, através de seu instinto e necessidades fisiológicas, para conseguir o que precisa, e que lhe cobra a nutrição e os afetos. Nota-se que a motivação é algo que é instintivo e que já nasce junto com o ser humano. Temos aí uma motivação intrínseca.
A motivação intrínseca é fundamental porque é a partir dela que se desenvolve todo o processo de aprendizagem. O aluno precisa estar motivado a aprender, mas não necessariamente os motivos sejam, de fato, o aprender.
A motivação extrínseca tem sido definida como a motivação para trabalhar em resposta a algo externo à tarefa ou atividade, como para a obtenção de recompensas materiais ou sociais, de reconhecimento, objetivando atender aos comandos ou pressões de outras pessoas ou para demonstrar competências ou habilidades[5].O professor exerce um papel importante na motivação extrínseca, pois ele pode produzir uma aula que manifesta interesse nos alunos. Além disso, é importante destacar que o professor, sendo um mediador, é essencial para desenvolver as potencialidades dos alunos e não deixar que tais potencialidades padeçam. O texto  da Bader Burihan Sawaia discute o papel das emoções nas relações, a partir de Vygotski e Espinosa: “a desigualdade social se caracteriza por ameaça permanente à existência. Ela cerceia a experiência, a mobilidade, a vontade e impõe diferentes formas de humilhação. Essa depauperação permanente produz intenso sofrimento, uma tristeza que se cristaliza em um estado de paixão crônico na vida cotidiana, que se reproduz no corpo memorioso de geração a geração. Bloqueia o poder do corpo de afetar e ser afetado, rompendo os nexos entre mente e corpo, entre as funções psicológicas superiores e a sociedade... assim, imobilizada, nossa potência só pode reagir e não agir”, torna-se potência de padecimento, reduzindo nosso esforço de perseverar na própria existência ao sobrevivencialismo negador da vida.” [6] . O CasdVest trabalha justamente de modo a desenvolver as potencialidades de seus alunos, motivando-os de forma afetiva e quebrando o ciclo de pobreza. Seus alunos enxergam suas próprias capacidades por meio dos professores que os instigam a acreditarem no próprio potencial, apesar das dificuldades.
Portanto, o papel do mediador é de grande interesse para nosso estudo a cerca da motivação. Os alunos se sentem motivados a alcançarem seus objetivos pessoais, muitas vezes, pelo incentivo não só cognitivo, mas também psicológico por parte de seus professores e colegas (mediadores). Podemos dizer o seguinte: Piaget diz que é nas vivências que o indivíduo (criança) realiza com outras pessoas, que ele supera a fase do egocentrismo, constrói a noção do eu e do outro como referência[3]. Nesse sentido, entra o conceito de afetividade que é considerada a energia que move as ações humanas, ou seja, sem afetividade não há interesse nem motivação.
Vygotsky, por sua vez, afirma que o ser humano se constrói nas suas relações de trocas com o outro e que é a qualidade dessas experiências interpessoais e de relacionamento que determinam o seu desenvolvimento, inclusive afetivo, enquanto Wallon sustenta que, “no início da vida, afetividade e inteligência estão sincreticamente misturadas, com predomínio da primeira”[4].
O ambiente de aprendizado em um cursinho deveria proporcionar algum grau de “afetividade” e motivação ao interagir com o aluno.
A interação social também influencia a afetividade, interatividade e aprendizagem como um todo. No momento em que os alunos adquirem confiança e consideração por seus professores e colegas, as relações interpessoais começam a se formar. Dessa forma, inicia-se um processo de motivação extrínseca, e os alunos vão interagir entre si no momento dos estudos coletivos, onde vão socializar seus conhecimentos, pelo menos é o que se observa no cursinho comunitário CASD[2].
 Na concepção de Vygotsky, a postura do professor deixa de ser a de um provedor de informações para ser a de um gerenciador de entendimento. Toda a conduta e a habilidade do professor estão centradas na capacidade de motivação, interesse e apoio aos alunos, bem como na preparação do ambiente e na organização dos materiais[2]. Dessa forma, os alunos deixam de ser receptores passivos de informações e passam a ser construtores e socializadores de conhecimento.

4) Conclusão
Podemos desta forma, concluir a importância da motivação dentro do processo de aprendizado do aluno e a relação estabelecida entre a inteligência e o desenvolvimento de capacidades e habilidades.
Ressalta-se também a importância do mediador que tem papel fundamental na motivação dos alunos. Como pode-se observar, o CASD contem um grupo de professores altamente motivador e capacitado, além de trabalharem com a afetividade nos alunos.
Buscando possíveis aplicações da teoria de Vygotsky nos ambientes de uma sala de cursinho, pode-se analisar alguns elementos[2]:
-        O papel da mediação aluno-aluno; aluno-professor;
-        O papel do aluno visto como agente de interação social;
-        A ZDP, espaço entre crescimento espontâneo e mediado por especialistas;
-        O pensamento e o comportamento que vêm do meio social.
A afetividade, nesse contexto, se mostra bastante importante, uma vez que os alunos adquirem confiança e consideração por seus professores e colegas, inicia-se um processo de motivação, que impulsiona os mesmos a atingirem seus objetivos, vencendo todas as dificuldades que lhe são impostas, vencendo até mesmo falta de apoio dos pais, falta de dinheiro e, muitas vezes, tendo que trabalhar no outro período.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1]  LA TAILLE, Yves de. – Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão / Yves de La Taille, Martha Kohl de Oliveira, Heloysa Dantas. – São Paulo: Summos, 1992.
[2] ANDRADE, Adja Ferreira -Construindo um ambiente de aprendizagem a distância inspirado na concepção sociointeracionista de Vygotsky.
[3] OLIVEIRA. M. K. de. O Problema da afetividade em Vygotsky. In:
LA TAILLE, Y. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.
[4] LA TAILLE, Y. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.
[5]  BORUCHOVITCH, E.; BZUNECK, J. A. (orgs.). A motivação do aluno: contribuições da psicologia contemporânea. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
[6] SAWAIA, Bader Burihan: Psicologia e desigualdade social: uma reflexão sobre liberdade e transformação social. Psicologia & Sociedade (2009).

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