sexta-feira, 15 de junho de 2012

Análise Crítica de Vygotsky e Wallon

Bárbara de Oliveira Araujo, RA 116204

Análise Crítica de Vygotsky e Wallon:

                Ao ler os textos sobre Vygotsky, Wallon e sobre suas teorias , lembrei de um comentário que uma colega que já conhecia os estudos dos autores havia feito: de que quando tomamos conhecimento das teorias desses autores, percebemos que as teorias de Piajet – que lemos no início desse módulo – ficam um pouco desatualizadas e têm menos lógica em relação às que estamos trabalhando atualmente.
                Diferente de Piaget, “Vygotsky não chegou a formular uma concepção estruturada do desenvolvimento humano, a partir da qual pudéssemos interpretar o processo da construção psicológica do nascimento até a idade adulta” ( Oliveira, M. K,1997,  p. 56) e acredito que seja esse fato que faz com que suas teorias se mantenham atuais, pois não engessam um determinado nível – ou “estágio”, como diria Piaget – de desenvolvimento biológico que permeie cada idade. Pois, para Vygotsky, “é a aprendizagem que potencializa o desenvolvimento”, conforme frisado em sala de aula, pela professora Heloisa. O teórico também admite que
“Existe um percurso de desenvolvimento, em parte definido pelo processo de maturação do organismo individual, pertencente à espécie humana, mas é o aprendizado que possibilita o despertar dos processos internos que, não fosse o contato do indivíduo com certo ambiente cultural, não ocorreriam”.
                Um conceito de grande importância nas teorias de Vygotsky é a de “Zona de Desenvolvimento Proximal ” – ZDP -  que é, conforme palavras do teórico, citadas por Oliveira, M. K,1997, p. 60:
“a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a olhar de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes”.
A aplicação desse conceito é de grande eficácia para o professor em sala de aula, pois conforme reforçado por nossa professora na disciplina de Psicologia e Educação, se não prestarmos atenção no que um ser humano é capaz de fazer com ajuda – de um instrumento, ou de outro indivíduo - e nos limitamos a observar o comportamento físico, não conseguiremos descobrir o poder potencial do indivíduo. Porém, muitos professores acabam esquecendo-se, ou, não consideram relevante, o fato de que cada aluno – criança ou adulto – possui sua subjetividade, é um ser constituído histórico-socialmente, além do fato de que cada indivíduo possui um organismo singular, passível de limitações ou vantagens em relação aos demais seres humanos, em questão seus colegas de classe.
Outra questão que considero de grande relevância nos estudos de Vygotsky é o de intermediação do outro, no qual alega que “a intervenção de outras pessoas – que no caso da escola, são o professor e as demais crianças – é fundamental para a promoção do desenvolvimento do indivíduo” (Oliveira, M. K,1997, p. 62), porém também considera a importância da essência subjetiva do indivíduo e destaca a importância que cada ser social tem de reconstruir a cultura de sua sociedade.
A intervenção do outro pode ser observada em sala de aula, além da intervenção previsível do professor, pela intervenção mútua entre os alunos de uma mesma classe: os alunos com menos conhecimento/habilidade sobre/para determinado assunto/ tarefa, poderá promover o seu desenvolvimento observando, conversando, vivenciando com o colega de classe que saiba mais; esse aluno que sabe menos num dado momento, será o que sabe mais em outra dada situação, proporcionando um desenvolvimento mútuo. Também nessa questão, a professora ressaltou importância de uma sala heterogênea – várias classes sociais, habilidades diversas, dificuldades diversas, etc, pensando na maior possibilidade de desenvolvimento de cada indivíduo – questão que é tratada como problemática em muitas instituições, e não como uma experiência favorecedora, mas que deveria ser revertida.
                Limito-me ao espaço reservado para esta atividade para citar brevemente mais alguns temas abordados nos estudos e teorias de Vygotsky: a questão de linguagem e pensamento (linguagem que, para o teórico vem de fora para dentro e não de dentro para fora, como alegava Piaget) a comparação sobre os níveis “Psicológicos Superiores” do homem em relação aos animais – questão que limitaria a possibilidade de linguagem, mesmo entre os animais mais desenvolvidos e semelhantes ao homem - , “apropriação” da fala egocêntrica de Piaget, para explicar que essa fala seria uma forma de o  indivíduo organizar seus pensamentos e não de estar em um estágio inferior de desenvolvimento cognitivo. Considero todas essas teorias bastante válidas e articulam com primor as teorias postuladas até então – de Piaget, principalmente.
                Sobre Wallon, não posso deixar de mencionar que me emocionei com sua história de vida, pois confirmam várias passagens da primeira parte do livro “Para conhecer Wallon – uma psicologia dialética”de DANTAS, P.S., intitulada “Henri Wallon: traços biográficos”, que “Wallon não se satisfaz com a crença num mundo melhor; é um dos bons e diligentes obreiros que com mãos fervorosas, com amor, modelam dia após dia esse mundo, e dele farão amanhã a mais bela das realidades”, citação contida no livro, por prof. Tessier.
                Wallon trabalhou, talvez com mais profundidade do que Vygotsky, a questão da Afetividade em sala de aula. Alegava que “o acesso ao mundo simbólico se dá por meio das manifestações afetivas que permeiam as mediações que se estabelecem entre o sujeito e o outro” (Sérgio Leite, 2006, p. 24), e tem nesse ponto, uma semelhança com o pensamento de Vygotsky que acredita na importância do outro para o desenvolvimento do sujeito.
                Conforme apontado em sala de aula, Wallon distingue quatro “campos funcionais” para estudar o campo da consciência: Motor, Afetividade, Inteligência/ Cognitividade e pessoa completa – que seria a junção dos três campos anteriores;  nenhum desses campos se sobrepõe ao outro em grau de importância. Essa divisão de campos é trabalhada em sala de aula, quando Wallon fala sobre a necessidade de os alunos terem a possibilidade optar por um “caminho” pelo qual se identifiquem mais: em determinado ponto de seu período escolar, poderia optar por aprimorar-se em atividades de um dos campos acima.
                Essa questão da escolha proposta por Wallon é bastante interessante, pois uma das maiores reclamações que os alunos fazem em sala de aula, para seus professores, é sobre o fato de não gostarem do que aprendem pois não conseguem identificar-se com o conteúdo exposto.
                A aplicação da teoria de Wallon poderia ser feita pelo professor quando esse conseguir identificar os interesses de seus alunos e desenvolver sua aula com cautela, e personaliza-la para cada classe em que ministrar. Dessa forma, os alunos se sentiriam mais motivados para participarem da aula e para aprenderem, além de perceberem que o professor está dispensando afeto sobre eles, o que provocaria uma reação positiva e melhores condições de ensino e aprendizagem.



Bibliografia:
OLIVEIRA, M. K. – Vygotsky: Aprendizado e Desenvolvimento – Um Processo Sócio-Histórico. SP: Scipione, 1997 in Pensamento e Ação no Magistério.
DANTAS, P.S. “Primeira parte - Para conhecer Wallon – uma psicologia dialética” in “Henri Wallon: traços biográficos”, editora Brasiliense, 1983.
da SILVA, Sérgio Antonio [org.]. cap. Afetividade e práticas pedagógicoas in Afetividade e práticas pedagógicoas - 1ª ed. - São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.

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