Análise Crítica - Módulo
Histórico-Cultural
Luma Corrêa M. Costa - 092139
Uma forma
de se iniciar uma análise sobre a abordagem histórico-cultural estudada, de
Vygotsky e Wallon, é introduzindo algumas outras posições teóricas sobre
desenvolvimento e aprendizagem, sendo a primeira piagetiana. Segundo Piaget,
desenvolvimento e aprendizagem caminham separadamente, de modo que o
desenvolvimento precede a aprendizagem, ou seja, este último não interfere no
desenvolvimento do indivíduo, e é a instrução que deve seguir o crescimento
mental. Há, porém, uma segunda posição teórica que defende que aprendizagem e
desenvolvimento caminham juntos. Como que numa fusão dessas duas, surge uma
terceira posição, dividindo o desenvolvimento em dois processos, sendo eles
maturação e aprendizado. Afirma ainda que, neste último, o aprendizado não só
caminha junto com o desenvolvimento como também o estimula.
Partindo
da apresentação dessas posições teóricas, é possível introduzir a teoria
vygotskiana, começando justamente pelo seu conceito de desenvolvimento e
aprendizagem. Para ele, ao contrário de Piaget, é a aprendizagem que precede e
interefere de forma significativa o desenvolvimento. Vygostsky, no intuito de
organizar seus pensamentos, define três conceitos com os quais trabalha, sendo
o mais abordado pelo pesquisador o conceito de Zona de Desenvolvimento
Proximal. Para ele, existem dois níveis de desenvolvimento a serem analisados
no indivíduo. O primeiro é aquele referente a tudo que o indivíduo já assimilou,
ou seja, tarefas que ele é capaz de realizar sozinho, sendo, portanto,
resultados de ciclos concluídos da aprendizagem. Tal nível é denominado Nível
de Desenvolvimento Real (NDR). Porém, outro nível de desenvolvimento,
geralmente negligenciado em algumas pesquisas, mas ressaltado por Vygotsky, é o
Nível de Desenvolvimento Potencial (NDP). Neste nível, encontram-se os
resultados obtidos pelo indivíduo com alguma interferência externa, ou seja,
tarefas que ainda não são realizadas de forma independente, mas representa o
que será o Desenvolvimento Real, no futuro.
Entre
esses dois níveis apresentados (NDR E NDP), se encontra a tão estudada Zona de
Desenvolvimento Proximal (ZDP). Na ZDP é que está todo o potencial que o
indivíduo tem para prosseguir com sua aprendizagem. Ali estão funções que ainda
não amadureceram, mas estão em processo de desenvolvimento. Vygotsky chama
atenção para este conceito, e acredito que é realmente de muito interesse reconhecê-lo,
pois a partir disso, pode se tornar mais eficaz nosso trabalho como professor,
se conseguirmos, atuar exatamente naquilo que o aluno tem em potencial, e não
ficar estagnado naquilo que ele já assimilou, como o próprio pesquisador
afirma. Penso também que, dessa maneira, a motivação para aprender, por parte
dos alunos, poderia ser diferente, quando o que cada indivíduo tem de melhor
seria ressaltado.
Novamente
citando Piaget, como comparação à teoria vygotskiana, é interessante relembrar
a análise do primeiro, agora sobre pensamento e linguagem. A fala egocêntrica,
ou o “falar sozinho” presente na fase da infância, é amplamente estudada por
ambos, e relatada como desaparecida por Piaget depois do amadurecimento, porém,
Vygotsky defende a ideia de que esta fala, na verdade, apenas passa por uma
transformação, e na fase adulta, assume papel de fala interior, ou seja, é
ainda um falar consigo mesmo, como forma de organizar os próprios pensamentos,
porém de forma silenciosa. Além disso, ele aponta ainda duas funções para a
linguagem: intercâmbio social e pensamento generalizante.
A
linguagem como intercâmbio social se dá, simplesmente, pela necessidade de
comunicação, que impulsiona o seu desenvolvimento. Já na análise da linguagem
como pensamento generalizante, é onde fica explícito a relação entre pensamento
e linguagem defendida por Vygotsky. Ele afirma que a linguagem assume essa
função, uma vez que tem o poder de agrupar elementos numa mesma categoria, e
diferenciar todos os outros com características diferentes. Desta forma, a
palavra cadeira, por exemplo, pode dividir o mundo real em dois grandes grupos,
tudo aquilo que é cadeira, e tudo aquilo que não é cadeira. É, portanto, no
significado de cada palavra que o pensamento e a linguagem se unem. Existem,
aqui, dois termos diferentes para Vygotsky: o significado é a relação
estabelecida à palavra por meio da cultura, e é relativamente estável; o sentido
é composto pelas relações que cada indivíduo estabelece com a palavra, através
do contexto utilizado e de suas experiências afetivas, sendo, portanto,
instável.
Partindo
do estudo da linguagem, se chega ao estudo dos processos psicológicos, uma vez
que ambos estão relacionados. Existe uma fase pré-linguística do pensamento, e
a fase pré-intelectual da linguagem. A primeira pode ser comparada, mais uma
vez, à teoria de Piaget quando ele se refere ao período sensório-motor das
crianças. Nessa fase, adquire-se a inteligência prática, processos psicológicos
inferiores, similares aos demonstrados por outros animais. Na fase pré-intelectual
da linguagem, as manifestações verbais são utilizadas para alívio emocional,
como o choro ou o riso, por exemplo, já estabelecendo uma relação social com o
meio. Depois que ocorre a junção de pensamento e linguagem, a linguagem
racional, ou o pensamento verbal, são predominantes nas ações humanas, porém
não extingue a linguagem sem pensamento, nem tampouco o pensamento sem
linguagem. Porém, essa predominância da linguagem fundida ao pensamento,
caracteriza os processos psicológicos superiores, característicos da espécie
humana.
Passando
à teoria psicológica de Wallon, tem-se que o desenvolvimento se dá pela
interação de quatro dimensões destacadas pelo pesquisador: afetividade,
conhecimento, ato motor e a pessoa. Assim, todo e qualquer tipo de ensino deve
se dirigir à pessoa inteira, e a eficácia da educação se fundamenta no estudo
do psicológico da criança. Ressaltando a escola como indispensável à formação
do ser humano, ele lembra que para que a educação tenha, portanto, essa eficácia
que ele cita, é necessário que o professor seja formado de forma adequada, e
reconheça a sua atuação.
Tradicionalmente,
a escola exerce seu papel considerando apenas as dimensões cognitivas do
indivíduo, predominando a concepção dualista do ser humano, enfatizando a
razão, e sendo a emoção muitas vezes considerada responsável por ações
inadequadas. A teoria walloniana, quando se fundamenta no estudo da pessoa
inteira, vem de encontro a tudo isso, pois aborda a concepção do ser humano de
acordo com a concepção monista, assim, afetividade e cognição se unem, sendo a
primeira tão importante para o desenvolvimento do individuo, quanto a segunda.
A
afetividade, estudada por Wallon e também por Vygotsky, representa papel
importante, portanto, no processo de ensino, e acredito que deva ser levado
ainda mais adiante seu estudo, pois penso que a educação como um todo, muito
pode ganhar com a compreensão dessa questão em sala de aula. Importante lembrar
que, os dois autores deixam claro que tratam do caráter social da afetividade,
e que esta vai muito além do significado que a palavra adquiriu no senso comum.
Assim, um professor age com afeto, mesmo sem saber, e interfere no campo
emocional e afetivo dos alunos, mesmo quando não pensa que isto está
acontecendo. Isso se dá justamente pelo fato de que a afetividade aqui tratada
ultrapassa a ideia de carinho, ou bondade por parte do professor, mas faz
referência ao tratamento do aluno como pessoa inteira, levando em consideração,
portanto não somente suas facilidades e dificuldades cognitivas, mas também questões
emocionais, como a auto estima que este adquire na escola, confiança em si e no
professor, e consequentemente o respeito que passa a existir, ou não.
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