sexta-feira, 29 de junho de 2012

Atividade Prática Afetividade e Emoção


Afetividade e Emoção
Amanda Nunes Rabello                   080589
Bárbara de Oliveira Araújo              116204
Luma C. M. Costa                            092139
 “É arduo decidir se o que afetou mais e foi de maior importância foi nosso interesse pelas ciências que eram ensinadas ou pelas personalidades de nossos professores.” (Freud)
1.    Introdução Teórica
Piaget toca o tema afetividade, principalmente em suas obras que tratam do Juízo Moral do indivíduo. Para o autor, “...desde o período pré-verbal, existe um estreito paralelismo entre o desenvolvimento da afetividade e o das funções intelectuais, já que estes são dois aspectos indissociáveis de cada ação. [...] Nunca há ação puramente intelectual [...], assim como também não há atos que sejam puramente afetivos...” (Seis Estudos de Psicologia – Jean Piaget).
A partir daí, pode-se evidenciar também dois conceitos importantes que o autor cita: coação e cooperação. As relações de coação são aquelas em que o respeito unilateral predomina, e as regras ou conteúdo são impostos do exterior para o interior, assumindo, portanto, o sujeito um caráter passivo. Já nas relações de cooperação “... a essência é fazer nascer, no próprio interior do espírito, a consciência de normas ideais, dominando todas as regras” (O Juízo Moral na Criança – Jean Piaget). Neste segundo tipo de relação, predomina o respeito mútuo, dando ao sujeito a possibilidade de assumir caráter ativo, tão defendido por Piaget.
Carl Rogers foi um psicólogo norte-americano, considerado precursor da psicologia humanista e criador da linha teórica conhecida como Abordagem Centrada na Pessoa (ACP). Rogers foi responsável por um fenômeno na psicologia chamado, posteriormente, de inversão de focos. Isso se deve ao fato de que Rogers começou a observar que não era suficiente dar resposta ao problema, e passou, então, a olhar mais para a pessoa.
Um dos pressupostos básicos do qual Rogers parte é a tendência atualizante, termo empregado pelo próprio psicólogo. Desta forma, para ele, o desenvolvimento poderá acontecer, ainda que de forma mínima, devido a tal tendência. Porém, ocorrerá tanto mais plenamente, quanto mais forem as condições facilitadoras. Nas relações interpessoais, para Rogers, tais condições são: congruência, ser verdadeiro consigo mesmo e com o outro; empatia, “eu me colocar no lugar do outro, como se fosse o outro”, diferente de “eu no lugar do outro faria dessa maneira...”( É, acima de tudo, um profundo respeito); consideração positiva incondicional, aceitar o outro na sua totalidade, sem colocar condições para tal aceitação. Usando desses três conceitos como atitudes facilitadoras, torne-se possível levar em consideração a questão afetiva existente em qualquer relação interpessoal
Vygotsky introduz a filosofia espinosana com o objetivo de superar a visão negativa de que as emoções são antagônicas à razão. Diz ainda que:
“Toda emoção é um chamamento à ação ou uma renúncia a ela. Nenhum sentimento pode permanecer indiferente e infrutífero no comportamento. Ao sermos afetados, se alteram as conexões iniciais entre mente e corpo, pois os componentes psíquicos e orgânicos da reação emocional se estendem a todas as funções psicológicas superiores iniciais em que se produziram, surgindo uma nova ordem de conexões.” (Vygotsky, 2001, p. 139)
O autor define o papel das emoções como organizadores internos de nosso comportamento que estimulam ou inibem nossas ações. A emoção é a base do pensamento, porém Espinosa e Vygotsky compartilham da ideia de que um pensamento não motivado é tão impossível quanto uma ação sem causa. As emoções em conjunto com o desejo e a necessidade contém o último porquê de nossas atividades e ideias.
A pedagogia de Wallon é centrada no Humanismo, um ponto principal de sua proposta se destaca: a integração entre as dimensões afetiva, cognitiva e motora que formam a pessoa completa.
Wallon e Vygotsky são dois autores que desenvolveram teorias de desenvolvimento muito importantes para reconceituar o papel da afetividade no processo do desenvolvimento humano e no processo educacional.
2.    Atividades Práticas
2.1.  Observações em aulas de natação - Amanda
Nesse prática foram observadas duas formas de abordagens em aulas de natação. Em uma delas o professor se mantinha fora da piscina, o que dificultava sua comunicação com os alunos, e também sua relação com os mesmos. Na outra o professor entrava na água junto com as crianças.
Foi constatado que quando fora da água, além da comunicação ser sempre em tons de voz mais altos (quase gritando), o professor era privado de auxilixar o aluno, dificultando a passagem do nível de desenvolvimento potencial para o desenvolvimento real do aluno, conforme propõem Vygotsky. Além disso foi possível notar que a relação professor-aluno era de coação, os alunos respeitavam o professor por medo de punição,  percebíamos um respeito, mas não uma confiança do aluno com o professor.
Por outro lado, quando dentro da água foi possível observar que, diferente do que eu pensava, o tom de voz não era o mais importante, mas sim o contato mais próximo que essa abordagem proprocionou. Permitindo que o professor participasse de momentos de interação entre as crianças, e estabelecesse uma relação de confiança entre professor-aluno.
Obviamente a afetividade nesse caso vai muito além da confiança, porém como na natação temos que lhe dar com muitos traumas e medos, acredito que a confiança seja primordial nessa atividade.
Segundo Pessoa (2000) o professor livre de ideias pré-concebidas sobre o aluno, pode respeitá-lo e investir nele. Assim haverá uma relação professor-aluno genuína fundamentada na afetividade, confiança mútua e sinceridade. Relação contrário do que observamos nas aulas que o professor se mantinha fora da água.
Pessoa vai além, e ressalta que só o amor não é o bastante. Que além dessa relação, é necessário uma prática pedagógica estabelecida no respeito, na autoridade e no estabelecimento de limites, para que assim o professor permita o desenvolvimento do EU do aluno para que ele desenvolva auto-estima, confiança e respeito a si e ao outro. Conceitos observados nas aulas nas quais o professor se mantinha dentro da piscina, em que além de estabelecer uma boa relação com os alunos, era possível um maior controle da turma.Sergio Leite, quando relata estudos de campo, divide a observação em duas categorias: posturas e conteúdos verbais. Aspectos de postura valorizados são de proximidade e receptividade, enquanto que os aspectos verbais são os incentivos. Seguindo essas duas categorias, em nosso trabalho de campo, ficou evidente posturas diferentes de professores e como isso resulta na interação com a sala.
2.2.  Curso Affective Learning - Bárbara
Minha escolha por tratar a questão do curso desenvolvido sobre o “aprendizado afetivo” em cursos de idiomas foi, além estar integralmente relacionado com o tema “Afetividade e Emoção”, porquê estava bem próximo de minha realidade diária e o “trauma” no aprendizado de uma segunda língua, está cada vez mais evidente atualmente, com a demanda do mercado por pessoas que falem uma ou mais línguas.
Os temas abordados no decorrer do curso sobre Ensino Afetivo e o próprio fato de ter sido desenvolvido um curso com esse tema, assemelham-se com as propostas de Wallon. Conforme Wallon, Almeida também ressalta que “é da disposição de o professor estar na direção, estar voltado para seu aluno, que dependerá a marca de sua contribuição ao desenvolvimento do aluno que lhe for confiado.” (p. 82).
Muitos alunos da escola de idiomas citada apresentam queixas em relação aos professores. Além de efetuarem a matrícula no curso de idiomas, com a sensação de bloqueio de quem “já é adulto e nunca conseguiu aprender inglês”, as empresas nas quais trabalham, o obrigam a desenvolverem essa habilidade o mais breve possível.
Um dos professores não tão queridos pelos alunos, possui um perfil um pouco mais rígido – o que não deixa de ser uma demonstração de afetividade - ,  e demonstra mais atenção e paciência com os alunos que possuem mais facilidade no aprendizado, apontando as dificuldades e limites do aluno “deficitário” de forma dura, demonstrando pouca ou nenhuma esperança na possibilidade de melhora do aluno.
Lembrando que tratam-se de alunos adultos, acredito que o aluno poderá seguir dois caminhos a partir dessa situação: superar essa imagem criada por esse perfil de professor e, até mesmo, utilizá-la à seu favor como meta de desenvolvimento; ou encarar essa experiência como o atestado de seu fracasso, principalmente no aprendizado de  línguas, podendo talvez não voltar a estudar um segundo idioma. Segundo Almeida, o aluno carrega consigo experiências sociais e escolares anteriores:
“O apoio que o professor dará ao aluno nessa travessia da criança para o adulto, terá maior ou menor relevância dependendo de ele olhar muitas vezes para trás para avaliar seu próprio desempenho; de olhar o aluno com reverência ou acatamento; lembrando sempre que a criança de hoje é o adulto de amanhã; ter em conta suas condições de aprendizagem e as de seu meio; de seguir as determinações, cumprir, observar, acatar o ritmo de desenvolvimento próprio de sua etapa de formação.”
Já um dos professores queridos pelos alunos é exigente mas de uma maneira diferente da primeira: possui uma fala firme, mas ao mesmo tempo suave e calma e demonstra sua exigência aos alunos no sentido de que conhece o potencial deles e, pensando no sucesso de sua turma, procura sempre corrigi-los em sala de aula de maneira discreta, encarando o erro e dificuldade como processo comum na aprendizagem. A professora demonstra ter bastante conhecimento e interesse sobre o que ensina, fazendo com que os alunos tenham mais vontade de aprender. O que ressalta a importância de “Contagiosidade”, que conforme esclarece Wallon, “é a capacidade de contagiar o outro” (citado por LEITE, P. 20, 2006).
A primeira professora informa que não sentiu que o curso teve muita importância em suas rotinas pedagógicas, mas foi constatado por seus colegas de trabalho e pela diminuição da reclamação por parte de seus alunos, que ela acabou refletindo mais sobre suas práticas.
2.3.  Observações em sala de aula - Luma
Em uma primeira aula, disciplina de Matemática, a professora se mostrava calma, mesmo que às vezes irritada, chamava atenção de alguns alunos, se mantinha sentada em sua mesa. Quando não estava passando conteúdo na lousa, ainda sentada ela recebia alunos em sua mesa, ou passava pelas carteiras acompanhando a realização de exercícios. Durante toda a aula, ficou claro que a professora exigia um profundo respeito dos alunos para com ela, e em nenhum momento falou desrespeitosamente com os alunos. Tem-se aqui um exemplo do respeito mútuo citado por Piaget em sua obra. Observando os conteúdos verbais, além de manter um tom de voz mediano, a professora sempre que possível elogiava os alunos que acertava os exercícios, e em nenhum momento recriminou os que não acertaram. Os alunos, em sua maioria, se mostravam atentos e participativos.
  Um exemplo oposto pôde ser observado em uma aula da disciplina de Português. A professora, assim que entrou na sala de aula, já falou com os alunos num tom de voz muito acima do necessário para o ambiente de uma sala de aula, e mesmo assim, os alunos pareciam que não ouviam o que ela dizia, pois praticamente todos estavam fora de seus lugares, e realizando quaisquer outras atividades. Depois de alguns gritos de pedido de atenção por parte da professora, a aula começou e assim que foi passada uma atividade, os alunos já se levantaram e foram uns nas mesas dos outros novamente. A professora, semelhante à professora de Matemática, também caminhava pelas carteira, porém, mesmo muito perto do alunos, seu tom de voz era altíssimo e o conteúdo era sempre de repressão e/ou reclamação. A reação dos alunos era claramente oposto à reação que os mesmos apresentaram durante a aula de Matemática, se mostravam desinteressados e desmotivados.
As perguntas relativas à opinião deles sobre os professores são respondidas pela qualificação de “legal” ou “chato”, termos extremamente ligados à afetividade. Nestas respostas ficam evidenciadas duas observações relatadas no texto de Sérgio Leite. Além de a interpretação feita pelo aluno ser de natureza afetiva, ela está ligada à postura que a professora assume ao falar com a classe.
A pesquisa feita com professores pôde evidenciar qual é a ideia que a maioria tem em relação ao termo Afetividade.  Na pesquisa feita com duas professoras da Educação Básica, quando a pergunta foi sobre o que era considerada afetividade em sala de aula, ambas deixaram claro que o termo carrega o significado do senso comum, a ideia de que a relação afetiva com os aluno é aquele baseada em carinho, bondade.
Sobre a formação como professor, a ausência de um estudo sobre o tema afetividade/emoção foi a resposta dada por todos os entrevistados. Tanto na Educação Básica, quanto na Educação Superior, outra ideia predominante é que afetividade está ligada a alunos mais novos, e não a adolescentes, jovens e adultos. Uma professora, em uma conversa na observação realizada, diz que estabelecer relação afetiva é possível no Ensino Fundamental, mas nunca no Ensino Médio. O mesmo professor de Educação Superior, citado anteriormente, também aparenta ter mesma posição.
            Interessante notar que, na faculdade em que foi realizada a pesquisa, a proposta foi feita a oito professores, porém, obtivemos aceitação de apenas três deles. O primeiro foi esse professor já citado, e dentre as outras duas, uma se destaca pois, apesar de o entrevistado relatar que não estudou o tema afetividade em seu curso de formação de professor, sua ideia sobre tal tema muito se aproxima das teorias estudadas por nós.
3.    Conclusão
Na teoria psicológica de Wallon, o aluno é tratado como pessoa completa, e a escola é indispensável à formação do ser humano, ele lembra que para que a educação tenha essa eficácia é necessário que o professor seja formado de forma adequada. Desta maneira, seria válido se os professores tivessem consciência que dar aula não se resume à simples transmissão de conhecimento, mas sim, numa relação extremamente marcada pela afetividade. Paulo Freire faz referência a isso quando diz “Às vezes mal se imagina o que passa a representar, na vida de um aluno, um simples gesto do professor.”
4.    Referências Bibliográficas
·         ALMEIDA, L.R. Wallon e a educação in: Henri Wallon Psicologia e Educação. Edições Loyola.
·         COSTA, C. M. Considerações feitas em relação a ACP. Programa de Atendimento Psicológico - Paróquia São Benedito. Campinas. 11/04/12.
·         LEITE, S. A. S. Afetividade e práticas pedagógicoas. Casa do Psicólogo: São Paulo. 1ª edição. 2006.
·         PIAGET, J. O juízo moral da criança. São Paulo: Sumus. Edição 7. 1994
·         PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. Éditions Gonthier S.A.: Geneva. Edição 25. 2011
·         PESSOA, V.S. A afetividade sob a ótica psicanalítica e piagetiana. In: Ciências Humanas, v. 8, n. 1, p. 97-107. 2000.
·         SAWAIA, B.B. Psicologia e desigualdade social: uma reflexão sobre liberdade e transformação social. In: Psicologia e Sociedade, v. 21, n. 3, p. 364-372. 2009.
·         SAWAIA, B.B. A emoção como locus de produção do conhecimento – Uma reflexão inspirada em Vygotsky e no seu diálogo com Espinosa. Conferência de Pesquisa Sócio-cultural, 3. 2000, Campinas.

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