Afetividade
e Emoção
Amanda
Nunes Rabello 080589
Bárbara
de Oliveira Araújo 116204
Luma C.
M. Costa 092139
“É arduo decidir
se o que afetou mais e foi de maior importância foi nosso interesse pelas
ciências que eram ensinadas ou pelas personalidades de nossos professores.”
(Freud)
1. Introdução
Teórica
Piaget
toca o tema afetividade, principalmente em suas obras que tratam do Juízo Moral
do indivíduo. Para o autor, “...desde o período pré-verbal, existe um estreito
paralelismo entre o desenvolvimento da afetividade e o das funções
intelectuais, já que estes são dois aspectos indissociáveis de cada ação. [...]
Nunca há ação puramente intelectual [...], assim como também não há atos que
sejam puramente afetivos...” (Seis Estudos de Psicologia – Jean Piaget).
A
partir daí, pode-se evidenciar também dois conceitos importantes que o autor
cita: coação e cooperação. As relações de coação são aquelas em que o respeito
unilateral predomina, e as regras ou conteúdo são impostos do exterior para o
interior, assumindo, portanto, o sujeito um caráter passivo. Já nas relações de
cooperação “... a essência é fazer nascer, no próprio interior do espírito, a
consciência de normas ideais, dominando todas as regras” (O Juízo Moral na
Criança – Jean Piaget). Neste segundo tipo de relação, predomina o respeito
mútuo, dando ao sujeito a possibilidade de assumir caráter ativo, tão defendido
por Piaget.
Carl
Rogers foi um psicólogo norte-americano, considerado precursor da psicologia
humanista e criador da
linha teórica conhecida como Abordagem
Centrada na Pessoa (ACP). Rogers
foi responsável por um fenômeno na psicologia chamado, posteriormente, de
inversão de focos. Isso se deve ao fato de que Rogers começou a observar que não era
suficiente dar resposta ao problema, e passou, então, a olhar mais para a
pessoa.
Um dos pressupostos básicos do
qual Rogers parte é a tendência atualizante, termo empregado pelo próprio
psicólogo. Desta forma, para ele, o desenvolvimento poderá acontecer, ainda que
de forma mínima, devido a tal tendência. Porém, ocorrerá tanto mais plenamente,
quanto mais forem as condições facilitadoras. Nas relações interpessoais, para
Rogers, tais condições são: congruência,
ser verdadeiro consigo mesmo e com o outro; empatia, “eu me colocar no lugar do outro, como se fosse o outro”,
diferente de “eu no lugar do outro faria dessa maneira...”( É, acima de tudo,
um profundo respeito); consideração
positiva incondicional, aceitar o outro na sua totalidade, sem colocar
condições para tal aceitação. Usando desses três conceitos como atitudes
facilitadoras, torne-se possível levar em consideração a questão afetiva
existente em qualquer relação interpessoal
Vygotsky
introduz a filosofia espinosana com o objetivo de superar a visão negativa de
que as emoções são antagônicas à razão. Diz ainda que:
“Toda emoção é
um chamamento à ação ou uma renúncia a ela. Nenhum sentimento pode permanecer
indiferente e infrutífero no comportamento. Ao sermos afetados, se alteram as
conexões iniciais entre mente e corpo, pois os componentes psíquicos e
orgânicos da reação emocional se estendem a todas as funções psicológicas
superiores iniciais em que se produziram, surgindo uma nova ordem de conexões.”
(Vygotsky, 2001, p. 139)
O
autor define o papel das emoções como organizadores internos de nosso
comportamento que estimulam ou inibem nossas ações. A emoção é a base do
pensamento, porém Espinosa e Vygotsky compartilham da ideia de que um
pensamento não motivado é tão impossível quanto uma ação sem causa. As emoções
em conjunto com o desejo e a necessidade contém o último porquê de nossas
atividades e ideias.
A pedagogia de
Wallon é centrada no Humanismo, um ponto principal de sua proposta se destaca: a
integração entre as dimensões afetiva, cognitiva e motora que formam a pessoa
completa.
Wallon e
Vygotsky são dois autores que desenvolveram teorias de desenvolvimento muito
importantes para reconceituar o papel da afetividade no processo do
desenvolvimento humano e no processo educacional.
2.
Atividades Práticas
2.1. Observações em aulas de natação -
Amanda
Nesse
prática foram observadas duas formas de abordagens em aulas de natação. Em uma
delas o professor se mantinha fora da piscina, o que dificultava sua
comunicação com os alunos, e também sua relação com os mesmos. Na outra o
professor entrava na água junto com as crianças.
Foi
constatado que quando fora da água, além da comunicação ser sempre em tons de
voz mais altos (quase gritando), o professor era privado de auxilixar o aluno,
dificultando a passagem do nível de desenvolvimento potencial para o
desenvolvimento real do aluno, conforme propõem Vygotsky. Além disso foi
possível notar que a relação professor-aluno era de coação, os alunos
respeitavam o professor por medo de punição,
percebíamos um respeito, mas não uma confiança do aluno com o professor.
Por
outro lado, quando dentro da água foi possível observar que, diferente do que
eu pensava, o tom de voz não era o mais importante, mas sim o contato mais
próximo que essa abordagem proprocionou. Permitindo que o professor
participasse de momentos de interação entre as crianças, e estabelecesse uma
relação de confiança entre professor-aluno.
Obviamente
a afetividade nesse caso vai muito além da confiança, porém como na natação
temos que lhe dar com muitos traumas e medos, acredito que a confiança seja
primordial nessa atividade.
Segundo
Pessoa (2000) o professor livre de ideias pré-concebidas sobre o aluno, pode
respeitá-lo e investir nele. Assim haverá uma relação professor-aluno genuína
fundamentada na afetividade, confiança mútua e sinceridade. Relação contrário
do que observamos nas aulas que o professor se mantinha fora da água.
Pessoa
vai além, e ressalta que só o amor não é o bastante. Que além dessa relação, é
necessário uma prática pedagógica estabelecida no respeito, na autoridade e no
estabelecimento de limites, para que assim o professor permita o
desenvolvimento do EU do aluno para que ele desenvolva auto-estima, confiança e
respeito a si e ao outro. Conceitos observados nas aulas nas quais o professor
se mantinha dentro da piscina, em que além de estabelecer uma boa relação com os
alunos, era possível um maior controle da turma.Sergio Leite,
quando relata estudos de campo, divide a observação em duas categorias:
posturas e conteúdos verbais. Aspectos de postura valorizados são de
proximidade e receptividade, enquanto que os aspectos verbais são os
incentivos. Seguindo essas duas categorias, em nosso trabalho de campo, ficou
evidente posturas diferentes de professores e como isso resulta na interação
com a sala.
2.2.
Curso Affective Learning - Bárbara
Minha
escolha por tratar a questão do curso desenvolvido sobre o “aprendizado
afetivo” em cursos de idiomas foi, além estar integralmente relacionado com o
tema “Afetividade e Emoção”, porquê estava bem próximo de minha realidade
diária e o “trauma” no aprendizado de uma segunda língua, está cada vez mais
evidente atualmente, com a demanda do mercado por pessoas que falem uma ou mais
línguas.
Os
temas abordados no decorrer do curso sobre Ensino Afetivo e o próprio fato de
ter sido desenvolvido um curso com esse tema, assemelham-se com as propostas de
Wallon. Conforme Wallon, Almeida também ressalta que “é da disposição de o
professor estar na direção, estar voltado para seu aluno, que dependerá a marca
de sua contribuição ao desenvolvimento do aluno que lhe for confiado.” (p. 82).
Muitos
alunos da escola de idiomas citada apresentam queixas em relação aos
professores. Além de efetuarem a matrícula no curso de idiomas, com a sensação
de bloqueio de quem “já é adulto e nunca conseguiu aprender inglês”, as
empresas nas quais trabalham, o obrigam a desenvolverem essa habilidade o mais
breve possível.
Um
dos professores não tão queridos pelos alunos, possui um perfil um pouco mais
rígido – o que não deixa de ser uma demonstração de afetividade - , e demonstra mais atenção e paciência com os
alunos que possuem mais facilidade no aprendizado, apontando as dificuldades e
limites do aluno “deficitário” de forma dura, demonstrando pouca ou nenhuma
esperança na possibilidade de melhora do aluno.
Lembrando
que tratam-se de alunos adultos, acredito que o aluno poderá seguir dois
caminhos a partir dessa situação: superar essa imagem criada por esse perfil de
professor e, até mesmo, utilizá-la à seu favor como meta de desenvolvimento; ou
encarar essa experiência como o atestado de seu fracasso, principalmente no
aprendizado de línguas, podendo talvez
não voltar a estudar um segundo idioma. Segundo Almeida, o aluno carrega
consigo experiências sociais e escolares anteriores:
“O apoio que o professor dará ao aluno nessa
travessia da criança para o adulto, terá maior ou menor relevância dependendo
de ele olhar muitas vezes para trás para avaliar seu próprio desempenho; de
olhar o aluno com reverência ou acatamento; lembrando sempre que a criança de
hoje é o adulto de amanhã; ter em conta suas condições de aprendizagem e as de
seu meio; de seguir as determinações, cumprir, observar, acatar o ritmo de
desenvolvimento próprio de sua etapa de formação.”
Já
um dos professores queridos pelos alunos é exigente mas de uma maneira
diferente da primeira: possui uma fala firme, mas ao mesmo tempo suave e calma
e demonstra sua exigência aos alunos no sentido de que conhece o potencial
deles e, pensando no sucesso de sua turma, procura sempre corrigi-los em sala
de aula de maneira discreta, encarando o erro e dificuldade como processo comum
na aprendizagem. A professora demonstra ter bastante conhecimento e interesse
sobre o que ensina, fazendo com que os alunos tenham mais vontade de aprender. O
que ressalta a importância de “Contagiosidade”, que conforme esclarece Wallon,
“é a capacidade de contagiar o outro” (citado por LEITE, P. 20, 2006).
A
primeira professora informa que não sentiu que o curso teve muita importância
em suas rotinas pedagógicas, mas foi constatado por seus colegas de trabalho e
pela diminuição da reclamação por parte de seus alunos, que ela acabou
refletindo mais sobre suas práticas.
2.3. Observações em sala de aula -
Luma
Em uma primeira
aula, disciplina de Matemática, a professora se mostrava calma, mesmo que às
vezes irritada, chamava atenção de alguns alunos, se mantinha sentada em sua
mesa. Quando não estava passando conteúdo na lousa, ainda sentada ela recebia
alunos em sua mesa, ou passava pelas carteiras acompanhando a realização de
exercícios. Durante toda a aula, ficou claro que a professora exigia um
profundo respeito dos alunos para com ela, e em nenhum momento falou
desrespeitosamente com os alunos. Tem-se aqui um exemplo do respeito mútuo
citado por Piaget em sua obra. Observando os conteúdos verbais, além de manter
um tom de voz mediano, a professora sempre que possível elogiava os alunos que
acertava os exercícios, e em nenhum momento recriminou os que não acertaram. Os
alunos, em sua maioria, se mostravam atentos e participativos.
Um exemplo oposto pôde ser observado em uma
aula da disciplina de Português. A professora, assim que entrou na sala de
aula, já falou com os alunos num tom de voz muito acima do necessário para o
ambiente de uma sala de aula, e mesmo assim, os alunos pareciam que não ouviam
o que ela dizia, pois praticamente todos estavam fora de seus lugares, e
realizando quaisquer outras atividades. Depois de alguns gritos de pedido de
atenção por parte da professora, a aula começou e assim que foi passada uma
atividade, os alunos já se levantaram e foram uns nas mesas dos outros
novamente. A professora, semelhante à professora de Matemática, também
caminhava pelas carteira, porém, mesmo muito perto do alunos, seu tom de voz
era altíssimo e o conteúdo era sempre de repressão e/ou reclamação. A reação
dos alunos era claramente oposto à reação que os mesmos apresentaram durante a
aula de Matemática, se mostravam desinteressados e desmotivados.
As
perguntas relativas à opinião deles sobre os professores são respondidas pela
qualificação de “legal” ou “chato”, termos extremamente ligados à afetividade.
Nestas respostas ficam evidenciadas duas observações relatadas no texto de
Sérgio Leite. Além de a interpretação feita pelo aluno ser de natureza afetiva,
ela está ligada à postura que a professora assume ao falar com a classe.
A pesquisa feita
com professores pôde evidenciar qual é a ideia que a maioria tem em relação ao
termo Afetividade. Na pesquisa feita com
duas professoras da Educação Básica, quando a pergunta foi sobre o que era
considerada afetividade em sala de aula, ambas deixaram claro que o termo
carrega o significado do senso comum, a ideia de que a relação afetiva com os
aluno é aquele baseada em carinho, bondade.
Sobre a formação
como professor, a ausência de um estudo sobre o tema afetividade/emoção foi a
resposta dada por todos os entrevistados. Tanto
na Educação Básica, quanto na Educação Superior, outra ideia predominante é que
afetividade está ligada a alunos mais novos, e não a adolescentes, jovens e
adultos. Uma professora, em uma conversa na observação realizada, diz que
estabelecer relação afetiva é possível no Ensino Fundamental, mas nunca no
Ensino Médio. O mesmo professor de Educação Superior, citado anteriormente,
também aparenta ter mesma posição.
Interessante
notar que, na faculdade em que foi realizada a pesquisa, a proposta foi feita a
oito professores, porém, obtivemos aceitação de apenas três deles. O primeiro
foi esse professor já citado, e dentre as outras duas, uma se destaca pois,
apesar de o entrevistado relatar que não estudou o tema afetividade em seu
curso de formação de professor, sua ideia sobre tal tema muito se aproxima das
teorias estudadas por nós.
3. Conclusão
Na
teoria psicológica de Wallon, o aluno é tratado como pessoa completa, e a
escola é indispensável à formação do ser humano, ele lembra que para que a
educação tenha essa eficácia é necessário que o professor seja formado de forma
adequada. Desta maneira, seria válido se os professores tivessem consciência
que dar aula não se resume à simples transmissão de conhecimento, mas sim, numa
relação extremamente marcada pela afetividade. Paulo Freire faz referência a
isso quando diz “Às vezes mal se imagina o que passa a representar, na vida de
um aluno, um simples gesto do professor.”
4. Referências
Bibliográficas
·
ALMEIDA,
L.R. Wallon e a educação in: Henri
Wallon Psicologia e Educação. Edições Loyola.
·
COSTA,
C. M. Considerações feitas em relação a ACP. Programa de Atendimento Psicológico - Paróquia São Benedito.
Campinas. 11/04/12.
·
LEITE, S. A. S. Afetividade e práticas pedagógicoas.
Casa do Psicólogo: São Paulo. 1ª edição. 2006.
·
PIAGET,
J. O juízo moral da criança. São
Paulo: Sumus. Edição 7. 1994
·
PIAGET,
J. Seis estudos de psicologia. Éditions
Gonthier S.A.: Geneva. Edição
25. 2011
·
PESSOA,
V.S. A afetividade sob a ótica psicanalítica e piagetiana. In: Ciências
Humanas, v. 8, n. 1, p. 97-107. 2000.
·
SAWAIA,
B.B. Psicologia e desigualdade social: uma reflexão sobre liberdade e
transformação social. In: Psicologia e Sociedade, v. 21, n. 3, p.
364-372. 2009.
·
SAWAIA,
B.B. A emoção como locus de produção do conhecimento – Uma reflexão
inspirada em Vygotsky e no seu diálogo com Espinosa. Conferência de Pesquisa
Sócio-cultural, 3. 2000, Campinas.
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