sexta-feira, 8 de junho de 2012

Postagem Análise do Módulo Perspectiva histórico-cultural (Vygotsky e Wallon)

                         Gostaria de iniciar este texto usando como exemplo uma história vivida. Fui estudante de ensino fundamental por oito anos em uma escola pública estadual de São Paulo. Recordo que meus professores tinham muita dificuldade em lidar com uma sala de aula tão heterogenia. Nós tínhamos uma zona de desenvolvimento real muito diferente uns dos outros, nossas condições sociais por sua vez eram muito semelhantes (o lugar onde morávamos, o nível educacional de nossos pais e familiares etc.) salvo algumas exceções.
                         O problema dos professores em compreender as nossas dificuldades em aula, fez com que um deles, dividisse a classe em três grupos: o dos interessados, o dos inteligentes e o dos atrasados. Eu fiquei no grupo dos interessados... Mas mesmo interessada, lembro que a experiência não foi muito boa, porque eu não aprendia muita coisa, dado que as explicações para mim eram “soltas”, pensando na teoria de Vygotksy podemos dizer que não condiziam com a minha zona de desenvolvimento real. Eu tenho a impressão que só existia mesmo, para os professores, a zona de desenvolvimento potencial, ou seja, onde deveríamos chegar.  

                       Segundo Vygotsky (1998), o meio e a experiência dos alunos podem ser aproveitados no processo de mediação. A mediação acontece por intervenção daqueles que em dado momento “sabem mais” com relação aqueles que “sabem menos”; não é somente uma hierarquia de transmissão do conhecimento, mas sim, uma troca, por que nem sempre uma única pessoa detém todo o saber, todos tendem saber em alguma medida (por conta da experiência e subjetividade de cada um) e trocar informações. Quando nos lembramos do Filme Escritores da Liberdade, observamos que a professora pôde adequar sua mediação a realidade daqueles estudantes, problematizando a questão das gangues nos bairros e traçando dessa forma um paralelo com a história do Holocausto na segunda Guerra Mundial. Diferentemente deste último exemplo, a transmissão do conhecimento, na escola que estudei acontecia de maneira hierárquica, onde o professor detinha todo o saber e os alunos eram “visualizados” como tábulas rasas, talvez isso explique nossa dificuldade em compreender o conteúdo passado naquela época. 
                    O homem enquanto portador de uma função psicológica superior tende a transformar a natureza através de seu trabalho, essa transformação dos instrumentos, diferentemente da dos animais, que são portadores de uma inteligência psicológica inferior, tem relação com a produção de cultura que internaliza signos sofisticando-os além das necessidades fisiológicas humanas (por exemplo, o uso do guarda-chuva, a escrita, o teatro a religião). Por isso, as demandas humanas de aprendizagem, criação e de estruturação do pensamento são diferentes da dos animais e essa complexidade, parece exigir formas diferentes de mediação. 
                          Eu penso que o maior de todos os problemas da escola onde estudei, é o da mediação e o tipo de afetividade na mediação. Por que eu não posso dizer que não existia afetividade, a agressividade era uma espécie de afetividade permanente. Leite org. (2006, p.21) explica as três propriedades da emoção segundo Henri Wallon: A contagiosidade, plasticidade e regressividade. Posso afirmar que todas essas propriedades se manifestaram não só na sala de aula como na escola como um todo. Isso porque a impaciência e a agressividade do professor contagiava (contaminava) toda a sala de aula que refletia na plasticidade, no sentido de que éramos agressivos uns com os outros, por exemplo, era comum crianças apanharem e/ ou serem agredidas sexualmente (dentro da escola) pelos alunos mais velhos (repetentes) e a regressividade no sentido da criação de uma “autolimitação” no processo de aprendizagem, por que os estímulos eram negativos e nós, ou a maioria de nós, tinha a auto estima muito baixa. 
                         Outro ponto importante que fiquei a pensar durante esse módulo, é a questão da Língua, que parece ser uma forma complexa de manifestação do pensamento. Sem a linguagem Intelectual o pensamento ficaria como o pensamento animal. Estive refletindo que a manifestação artística é uma forma de linguagem que exprime o pensamento, esse pensamento por sua vez na criação artística (teatro, dança, artes plásticas) pode ser desestruturado, reestruturado, redimensionado e por fim comunicado - exteriorizado através da linguagem (não necessariamente a fala), é uma forma diferente e muito inteligente de modificar os códigos linguísticos.  Parece que as crianças que tem acesso ao criar artístico, desenvolvem melhor o raciocínio sobre as diferentes formas de pensar o mundo que estão inseridas, criam por sua vez diferente zona de desenvolvimento proximal durante todo o criar. Acredito que essa questão mereça maiores investigações, por se tratar de uma hipótese baseada em minhas experiências com as crianças. 
                             Apesar das experiências não muito “legais” com a escola na minha infância, tive muitos mestres amigos, amados, bons mediadores! Que mostraram para mim a alegria do aprender, portanto alguns conceitos trazidos nesta disciplina fizeram muito sentido para mim. Minha tristeza, entretanto, vem do fato de que indiferente é a forma como o Estado vem atuando com a educação, esquecendo – nos muitos por aí, como se fossemos lixo, é o caso que discutimos do documentário Estamira – uma mulher de grande potencial cognitivo que não teve e não tem oportunidades.  Entretanto é pelos mestres e seus exemplos e pelas respostas que obtive de mim mesma com minha prática, que continuo crendo, assim como acreditou Henri Wallon e tantos outros pesquisadores – professores, que a educação transforma pessoas. 

Referencias Bibliográficas citadas: 

LEITE, S.A.S. (org.). Afetividade e práticas pedagógicas. SP: Casa do Psicólogo, 2006.
Vigotski, L.S. Pensamento e Linguagem. SP: Martins Fontes, 1998

Priscila Rosseto Costa RA 100946 Educação Física. 


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