Análise Crítica – Vygtsky e Wallon
Giulia Cristina Ortolan, 120967
Como
havia citado em minha primeira análise crítica, que tratava de Jean Piaget, ele
não era, para mim, um autor completamente desconhecido, pois já havia por vezes
ouvido falar em seu nome, principalmente pelo fato de ter uma pessoa na família
que trabalha com educação infantil. Ao contrário de Piaget, porém, Vygostky e
Wallon eram para mim incógnitas que ao longo do módulo foram sendo descobertas
e pensadas.
Um
dos pontos mais interessantes que vejo em Vygotsky (e onde encontramos a
principal diferença entre seu pensamento e o de Piaget) é o fato de ele
considerar que pensamento e linguagem caminham do âmbito social para o
individual. Como gosto de pensar a teoria em prática e procura sempre buscar
situações em minha vivência, vou agora pensar sobre isso relacionando ao
desenvolvimento de minha sobrinha, que tem quatro meses e meio. Há alguns
meses, talvez um mês e meio, começamos a fazer algumas brincadeiras com ela, em
que mexemos a boca, numa espécie de sobro em que os lábios tremem, e observamos
de que após alguns minutos nos vendo fazer o movimento, ela começava a se
preparar e nos imitava. Essa brincadeira continuou por dias, insistíamos em
fazer o sopro e esperar até que ela fizesse igual (confesso que não pensando
teoricamente em seu desenvolvimento, mas por ser surpreendente vê-la aprendendo
coisas novas dia a dia) Atualmente, temos frequentemente encontrado ela em seu
berço, ou em seu carrinho, fazendo esse movimento sozinha, sem precisa mais observar
ninguém.
Pude
perceber então, que esse exemplo (que não necessariamente trás a tona a questão
da fala, mas a da repetição) pode mostrar o quão importante é para a criança
ver as pessoas ao seu redor fazendo algo, para que então ela faça também.
Talvez minha sobrinha não fizesse essa brincadeira se eu e minha família não
tivéssemos brincado com ela dessa maneira, assim como imagino que haja outros
bebês da mesma idade que façam outros tipos de brincadeira com seus pais.
Um
segundo ponto importantíssimo na obra de Vygotsky é a Zona de Desenvolvimento
Proximal (doravante ZDP). A ZDP encontra-se entre o Nível de Desenvolvimento Real
(doravante NDR) e o Nível de Desenvolvimento Proximal (doravante NDP). O
primeiro trata das tarefas que a criança já consegue realizar sozinha, enquanto
o segundo trata das tarefas que a criança ainda não realiza sozinha, mas que
realiza quando possui apoio de alguém. A ZDP é tão importante porque é nela que
ocorre a aprendizagem, e onde encontraremos a mediação, que no caso de sala de
aula, deve ser feita pelo professor, para incentivar o aluno para que aos
poucos ele comece a fazer sozinho o que ele já fazia com ajuda. Pensando nisso,
posso encontrar essa ZDP no exemplo da minha sobrinha. Ela começou a fazer os
movimentos com a boca porque nos via fazendo, e porque fazíamos repetidas vezes
até ela conseguir nos imitar. Hoje, como já disse, ela realiza esses movimentos
sozinha.
Gostaria também de tratar de um assunto da obra de
Vygotsky que chamou atenção principalmente com a exibição do filme “O milagre
de Anne Sullivan”. Vygotsky tenta nos mostrar que a maior descoberta de um
sujeito é saber que cada objeto tem um nome, e que ao descobrir isso o sujeito
passa a conseguir ordenar o seu pensamento, dando um grande salto em seu
desenvolvimento. No filme, podemos ver que apesar da dificuldade em ensinar uma
criança com deficiência visual e auditiva, ela consegue, ao final do filme, ir
descobrindo o mundo ao seu redor. A partir do filme então, passei a observar
isso em minhas turmas de inglês, principalmente nas turmas de crianças, e em
uma delas, especificamente, essa observação foi mais forte.
Tenho
uma turma de alunos que têm em média cinco anos, e que em sua língua materna,
já sabem que cada coisa tem um nome. Porém, a cada nova palavra da língua
inglesa introduzida às atividades realizadas em aula, eles anseiam (mais que os
adultos) em descobrir o que aquela palavra significa. Eles perguntam “que é
isso, tia?”, e normalmente respondem com um “ah tá” quando descobrem o que é. Ao
saber ao que se refere certa palavra, eu pude perceber que ela passa a fazer
sentido para esses meus alunos, assim como as coisas passaram a faz sentido
para Anne (talvez não em um nível tão elevado, pois eles já fizeram essa
descoberta em sua língua materna, mas ainda assim acredito que haja um pouco
dessa descoberta no aprendizado da língua estrangeira).
Quanto
a Wallon, talvez ele seja, dentre os três, o que mais considera a subjetividade
da criança. Agrada-me a forma dele pensar que a criança também leva sua emoções
para a sala de aula, e não as deixa do lado de fora da porta, assim como em uma
leitura, em que não podemos esquecer todas as nossas leituras anteriores para
ler determinado texto. Ao lermos, ativamos nossos esquemas mentais, trazendo
para nossa interpretação textos já lidos, e assim é com a criança: ao entrar na
sala de aula, ela leva consigo sua vivências, suas experiências e emoções. Pensando
também na ideia de que o meio é extremamente importante, vejo como um desafio
enquanto professora fazer da sala de aula um lugar agradável para o aluno,
pois, de fato, o aprendizado está diretamente ligado à afetividade. Para que o
aluno se interesse por uma matéria, muitas vezes basta que o professor seja
considerado por ele uma pessoa legal, e que o clima existente na sala faça com
que ele goste de estar ali, e que anseie por voltar para aquele lugar. Um dos principais desafios é fazer o aluno se
encantar em sala de aula, e penso que, talvez, um dos melhores jeitos de se
fazer isso é justamente trabalhando em sua ZDP, para que ele aos poucos se
satisfaça consigo mesmo, ficando orgulhoso ao perceber que está aprendendo.
Como professora, posso dizer que essa sensação não é boa apenas para o aluno, mas
também para mim, e acredito que para os demais professores.
Por
fim, algo que Vygotsky e Wallon têm em comum é o ensino dos “excluídos”. Ambos
vão olhar para o ensino das pessoas que não tem lugar no sistema de ensino da
sociedade, e vão trabalhar no ensino destes. O ensino dessas pessoas ainda é um
campo que precisa avançar muito em nossa sociedade, em que a minoria enxerga
essas pessoas como capazes.
Começaram
desconhecidos, mas ao longo do curso me ensinaram muitas coisas. Vygostky e
Wallon sem dúvida me fizeram pensar bastante em minha postura em sala de aula,
e em como lidar com meus alunos, que são sempre caixinhas de surpresa a serem
descobertas.
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