Análise Crítica: Vigotski e Wallon
Tamires Lemos
de Assis
Letras - 122187
Nesta breve
análise crítica relacionada à psicologia e educação, abordarei os principais
conceitos dos autores Lev S. Vigotski e Henri P. H. Wallon, bem como suas
respectivas implicações e contribuições na e para a sociedade, sendo estas de
suma importância. Uma vez que há um leque de textos e obras que discorrem não
só sobre a vida destes autores mas sobre suas ideias, teorias e teses, é
necessário que se faça um recorte, ou seja, que se selecione os temas mais
relevantes para elaborar uma análise mais condensada, porém, rica em
informações que passem tanto para um leitor modelo, quanto para um leitor
leigo, os principais pontos propostos por Vigotski e Wallon. A análise será,
praticamente, meu ponto de vista e releitura acerca de tudo que vimos em sala
de aula(textos, discussões, vídeos e filmes).
Uma das mais
importantes inserções de Vigotski para a psicologia foi relacionar o
desenvolvimento das funções psicológicas com o meio social, cultural e
econômico de cada indivíduo, possibilitando, assim, seu crescimento e ascensão
em meio a sociedade. Para ele, as funções que, primeiramente, eram passivas,
passam a ser ativas uma vez que o processo de desenvolvimento mental da criança
é contínuo, o que permite essa mudança essencial que marca a aquisição de
controle sobre si próprio. Sendo assim, o desenvolvimento línguístico e
intelectual da criança se dá na medida em que ela aprende a “falar para si
mesma”, ou seja, falar sozinha, interiorizando os diálogos existentes no meio
em que está inserida, bem como os seus próprios diálogos internos e
pensamentos. A criança ainda não sabe ao certo o que são as coisas do mundo,
ela parte de ideias, associações, e estes agrupamentos conceituais acerca de
tudo vão se desenvolvendo aos poucos, passando de um turbilhão para um plano
mais complexo e característico.
Somente depois
deste primeiro contato é que acontece a separação destes conceitos, a
categorização e, por último, o surgimento de conceitos mais tolhidos, mais
verdadeiros e definidos, que vão se aproximando dos presentes na idade adulta.
Ao entrar em contato com novos conceitos, a criança tem a capacidade de acessar
seu esquema mental e restabelecer novas diretrizes para a aquisição destes
novos conhecimentos, sem ter a necessidade de modificar ou reestruturar os
conceitos anteriormente absorvidos; esta é uma característica da inteligência
humana muito útil e eficaz, diferindo, por exemplo, da inteligência dos macacos
e chimpanzés. No mundo criado pela criança, ela pode realizar seus desejos e
ser a “dona” de seus próprios pensamentos, fazendo com que neste imaginário o
brinquedo, por exemplo, ganhe vida, ou até mesmo uma historinha contida em um
livro infantil: não há limites para a arte, imaginação e criatividade, a mente
vai longe quando se trata de criar e transformar anseios naquilo que traz um
certo significado para a criança; parece “certo”.
Um exemplo
interessante deste mundo criado pela criança, é quando ela, mesmo sem ser
alfabetizada, pega um livro e começa a “lê-lo”, contando uma história. Ela pode
não saber ao certo o que significam aquelas letras, frases e palavras, mas
pelas imagens, por exemplo, conseguem se lembrar de uma outra vez em que
tiveram contato com aquele livro, ou associar a algo já existente nos seus
esquemas mentais e “montar’ um significado novo para aquilo que está vendo. Se
ela vê o desenho de uma tartaruga e de um coelho, pode lembrar que alguma vez a
professora leu “A Lebre e a Tartaruga”( que conta a história de uma corrida
destes dois animais, na qual a lebre conta vantagem por ser mais rápida, porém,
dorme esperando a tartaruga, esperta, que passa na frente enquanto a Lebre
cochila e acaba vencendo), ou ela pode associar a alguém que tenha um coelho ou
tartaruga de estimação, e a partir desta lembrança criar uma história de sua
autoria.
No filme “O
Contador de Histórias”, que assistimos em sala de aula para a disciplina
Psicologia e Educação, há um exemplo interessante sobre como a
criança/adolescente serve-se de sua imaginação para transformar a realidade na
qual vive, como Vigostki aborda em seus escritos. Roberto, o protagonista, para
fugir(tanto mentalmente quanto fisicamente) das dificuldades encontradas na
instituição, as vezes se isola e em outras tenta fazer parte do sistema(falando
palavrões, inventando doenças, etc), bem como pula os muros da instituição e
fuge com alguns outros internos. Toda essa trama é rica em significação:
Roberto que, aos 13 anos, ainda é analfabeto, é considerado como um caso
“irrecuperável”, mas a peripécia se dá no momento em que Marguerith , uma
pedagoga francesa, se interessa pela história do garoto e se dedica de “corpo e
alma” para ajuda-lo, principalmente, a se alfabetizar. Com isso Roberto também
aprendeu francês, a lingua materna de Marguerith.
O relevante do
filme para esta análise crítica é que neste contato entre a pedagoga e o
garoto, ele pôde ter a aquisição da escrita a partir da mediação: Roberto tinha
potencialidade de aprender, mas o processo não poderia ser concluído sem o
auxilio de Marguerith, responsável por
“concretizar” os conhecimentos do garoto e alfabetizá-lo. Para Vigotski, ZDP(zona de desenvolvimento proximal) é a
distância entre o “nível de desenvolvimento real” e o “nível de desenvolvimento
potencial”, ou seja, é um campo intermediário entre a capacidade de desenvolver
um problema sozinho, sem ajuda, e a resolução a partir da intervenção de um
adulto ou uma outra pessoa. Esses dois níveis de desenvolvimento estão
diariamente em contato com o indivíduo, assim como no filme “O Contador de
Histórias”: o primeiro aumenta conforme os processos de aprendizagem forem
aumentando, é dinâmico e de resolução autônoma, é real pois condiz com o
presente, “o agora”, aquilo que o indivíduo pode fazer por si só; o segundo é
uma previsão daquilo que o indivíduo é capaz, do que é possível, as habilidades
que tem mas que ainda não estão tolhidas, encontram-se em andamento. Assim ,
uma vez que o NDP é uma icógnita, pois ainda não se concretizou, a ZDP funciona
como um índice, que permite que os processos educativos potenciais ajam de
forma sistemática e individualizada, tomando como ponto de partida o
desenvolvimento real, passando do que o indivíduo consolidou de forma autônoma
para o que consegue resolver com mediações.
Assim como
Vigotski, Wallon é um estudioso da psicologia do desenvolvimento, de visão
interacionista, que analisa as mudanças de comportamento ao longo da vida de
uma pessoa, atentando-se também as faixas etárias e estabelecendo parâmetros
que geralmente as caracterizam. O foco dos seus estudos se concentra mais na
infância, onde teoriza acerca do processo de aprendizagem, defendendo que ele é
dialético, ou seja, visa a análise da pessoa completa: para Wallon a cognição é
importante, porém não mais que a afetividade ou a motricidade. Wallon também
discorre sobre a influência do fator orgânico, que segundo ele é primário para
se pensar no desenvolvimento do pensamento no indivíduo, mas não deixa de lado
a influência do meio. O fatores sociais e fisiológicos são essenciais para os seus estudos uma vez
que para se pensar no psiquismo, o autor se prende a estes, o que é necessário
para analisar as características do desenvolvimento humano. Wallon também diz
que as potencialidades psicologicas dependem obrigatoriamente do contexto
socio-cultural, pois o desenvolvimento das habilidades cognitivas não acontece
somente em função do sistema nervoso.
Wallon
fragmenta os alicerces da cognição em quatro, dando a estes o nome de “campos
funcionais”: Movimento, Afetividade, Inteligência e Pessoa. O movimento é o
primeiro a se desenvolver, sendo a base para o desenvolvimento dos demais, uma
vez que tem grande importância na estruturação do pensamento, periodo anterior
à aquisição da linguagem. Estes movimentos são divididos em dois:
expressivos(gesticular, falar) e instrumentais(andar, pegar objetos, mastigar).
A afetividade é a forma com que o indivíduo interage com o meio, assim, as
emoções separam a criança do ambiente, e este campo é importante por que são a
base da inteligência, que é atrelada ao raciocínio simbólico e a linguagem. Uma
vez que a criança se dá conta de onde acaba ela e onde começa o mundo, no que
acontece com as pessoas, os objetos quando ela não está por perto, a abstração
e o raciocínio simbólico vão se desenvolvendo e se aperfeiçoando, abrindo
espaço para as habilidades linguísticas. O ultimo campo, designado como
“pessoa”, é aquele que significa o indivíduo e é responsável pelo
desenvolvimento da consciência e da identidade do eu. A função primordial deste
campo é mediar os demais, pois eventualmente poderão haver conflitos que
precisam de uma intervenção para “restabelecer a ordem”, o equilíbrio no
sujeito.
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